sexta-feira, 8 de outubro de 2010

As teorias de Darwin sobre a Evolução e a Origem das Espécies



No capítulo I, Darwin coloca sua visão sobre a origem das raças domésticas, tratando das causas da variabilidade, dos efeitos do hábito, da hereditariedade e da capacidade seletiva do homem sobre as variedades domésticas animais e vegetais. Ele observa que os indivíduos vegetais e animais domésticos de uma mesma espécie diferem muito mais entre si do que os indivíduos de qualquer espécie em estado selvagem. E conclui que esta variabilidade maior se deve ao fato de que as espécies domésticas teriam se desenvolvido sob condições de vida menos uniformes e diferentes daquelas às quais seus ancestrais selvagens têm sido expostos. Equivocadamente, talvez influenciado pelas idéias de Lamark sobre desenvolvimento progressivo (uso-desuso), Darwin admite que o hábito também tem influência decisiva sobre a evolução/adaptação. Cita, como efeito do uso, o maior tamanho das tetas das vacas e cabras nas áreas onde tais animais são ordenhados regularmente, em comparação com o tamanho das tetas dos mesmos animais nos locais onde não se verifica tal prática. Para o efeito do desuso, cita a existência de raças de animais domésticos com orelhas pendentes __ devido ao desuso dos músculos da orelha, já que tais animais não mais vivem em estado de alerta ao perigo. Sobre a hereditariedade, Darwin comenta: "As leis que regulam a hereditariedade são inteiramente desconhecidas. Ninguém sabe explicar por que uma determinada peculiaridade seja ora hereditária, ora não, ou por que ela pode ser transmitida de um sexo para ambos ou então para um só sexo" (é importante esclarecer que Darwin jamais teve conhecimento das Leis de Mendel relativas à hereditariedade, publicadas em 1865. Mendel, após longas pesquisas com ervilhas, descobriu que a hereditariedade é transmitida através de pares de gens dominantes e/ou recessivos. Ex: a característica olhos azuis é recessiva; então, para que o filho tenha olhos azuis é necessário que ambos os pais tenham olhos azuis, um par de gens recessivos, ou ambos, mesmo não possuindo olhos azuis, apresentem em seu par de gens, um gem recessivo para olhos azuis.). Sobre a capacidade seletiva do homem, Darwin acreditava em uma seleção acumulativa: a natureza forneceria as variações sucessivas e o homem saberia como levá-las para determinadas direções úteis para ele. Quanto mais incomum e útil fosse essa variação observada pela primeira vez, mais ela chamaria a atenção e poderia ser selecionada e preservada pelo homem. Ele cita que as variedades criadas por povos selvagens guardam mais suas características específicas do que as variedades criadas nos países civilizados. Darwin estava convencido de que o fator predominante da variabilidade seria a ação acumulativa da seleção, seja aplicada metodicamente (pelo homem), com resultados rápidos, seja aleatoriamente (pela natureza), com resultados mais lentos.

No capítulo II, Darwin aplica aos seres que vivem em estado nativo os princípios do capítulo I. Discute se estes seres estariam sujeitos a algum tipo de variação e define que as espécies dominantes, com áreas de ocorrência mais ampla, mais difundidas dentro de seu próprio habitat e com maior número de indivíduos, produziriam variedades bem características com maior freqüência.

No capítulo III, Darwin explana sobre a luta pela existência e as inter-relações os seres vivos, com seus efeitos sobre a seleção natural. Nesse capítulo, um dos mais importantes do livro, Darwin expõe o que denominou Princípio de Seleção Natural __ "todos os seres vivos estão expostos a uma rigorosa competição, a luta pela sobrevivência. Nessa luta, qualquer variação, por menor que seja e desde que apresente alguma utilidade para o indivíduo, no que se refere às suas relações complexas com os outros seres vivos e o meio ambiente, contribuirá para a sua preservação, sendo passada para seus descendentes. Estes, por sua vez, terão maior oportunidade de sobreviver". Assim, Darwin dá um sentido mais amplo à Luta pela Existência: "não é só a vida de um indivíduo, mas sua capacidade de deixar descendência". Mais adiante, Darwin comenta sobre a "complexidade e imprevisibilidade das inter-relações entre os seres vivos, por mais afastados que estejam na escala da vida, que têm de lutar entre si por sua sobrevivência na mesma região". Para exemplificar ele cita um caso interessante: Em uma região da Inglaterra, a quantidade de gatos tem influência na fertilização da flor amor-perfeito. Por que isso acontece? Porque o número de abelhões __ insetos indispensáveis na fertilização da flor amor-perfeito __ existentes em uma área depende do número de ratos silvestres, já que esses animais destroem os favos e ninhos daquele inseto. Os ratos, por sua vez, têm sua quantidade determinada pelo número de gatos existentes no local. Assim, a presença maciça de felinos em uma certa área pode determinar, em razão de sua influência direta sobre o número de ratos e indireta sobre o de abelhões, a presença maior ou menor da flor amor-perfeito nessa área. No entanto, ele afirma que "a luta pela sobrevivência costuma ser mais severa quando travada entre os indivíduos da mesma espécie, já que eles freqüentam as mesmas áreas, comem os mesmos alimentos e estão expostos aos mesmos perigos". Darwin, sem dar denominação a "um corolário da mais alta importância" deduzido a partir de suas observações, expõe o que hoje poderíamos chamar de cadeia alimentar de um ecossistema: "a estrutura de todo ser organizado está relacionada de maneira essencial com a de todos os outros seres com os quais ele entra em competição visando obter alimento ou moradia, ou do qual ele tenha de escapar, ou sobre o qual ele se atira em busca de seu próprio alimento". Finalizando o capítulo, Darwin resume o que seria a Luta pela Existência: "todos os seres vivos pelejam por multiplicar-se em proporção geométrica, e cada qual, pelo menos em algum período de sua vida, ou durante alguma estação do ano, seja permanentemente ou de tempos em tempos, tem de lutar por sua sobrevivência e está sujeito a sofrer considerável destruição. Essa luta vital, a guerra que se trava na natureza, não é incessante e nem produz pânico; a morte geralmente sobrevém de maneira imediata e somente os mais resistentes, os mais fortes, os mais saudáveis e os mais felizes conseguem sobreviver e multiplicar-se".

No capítulo IV, Darwin discorre sobre os princípios da seleção natural, da seleção sexual, da extinção e da divergência dos caracteres. Antes, nos dá uma boa definição do que ele considerava como sendo Seleção Natural: "é uma força que se encontra incessantemente pronta a atuar, preservando as variações favoráveis e eliminando as variações nocivas. Pode-se dizer que toda variação surgida, mesmo a mais insignificante, onde quer que ocorra, no ovo, na semente, no filhote ou mesmo no ser em idade adulta, está passando pelo crivo da seleção natural, dia a dia e a cada hora, preservando e ampliando a que for útil, trabalhando de maneira lenta, silenciosa e imperceptível, quando e onde se oferece a oportunidade, no sentido de aprimorar os seres vivos no tocante às suas condições de vida"... "Ao contrário do homem, que ao fazer a sua seleção nas raças domésticas age apenas sobre os caracteres externos e visíveis, através de processos metódicos, ainda que aleatórios, a natureza pode agir sobre todos os orgãos e qualquer característica estrutural do complexo mecanismo vital do indivíduo. A seleção dirigida pelo homem visa apenas seu próprio bem; a da natureza se volta exclusivamente para o bem do indivíduo modificado." Darwin, define ainda outro tipo de seleção, a Seleção Sexual, cuja ação pode ser constatada quando machos e fêmeas de uma mesma espécie, ainda que com iguais hábitos gerais de vida, diferem na estrutura, cor ou ornamentos __ evolução e adaptação de características exclusivas dos seres masculinos, destinadas a favorecê-los nas disputas com outros machos. Ou seja, os indivíduos do sexo masculino teriam adqüirido, através de gerações sucessivas, alguma vantagem, ainda que ligeira, sobre os outros machos, no que se refere às suas armas, meios de defesa ou encantos particulares, transmitindo essa vantagem para seus descendentes do mesmo sexo. Assim, a seleção sexual não depende da luta pela existência, mas sim da luta travada pelos machos visando a posse das fêmeas e assegurando aos machos mais vigorosos e melhor adaptados maior número de descendentes. Para o derrotado, a conseqüência não é a morte, mas sim a redução parcial ou total de seus descendentes. Quanto à Extinção, Darwin nos fornece conclusões interessantes: "à medida que novas espécies vão sendo formadas, durante o correr dos tempos, através da seleção natural, outras se vão tornando cada vez mais raras, até se extingüirem por completo... são as formas mais próximas __ variedades da mesma espécie ou espécies do mesmo gênero __ que, em virtude de possuirem estruturas, constitutição e hábitos semelhantes, via de regra competirão mais renhidamente entre si. Conseqüentemente, cada nova espécie ou nova variedade, durante o processo de sua formação, irá geralmente pressionar de modo mais forte suas congêneres mais próximas, tendendo a exterminá-las". Outra teoria descrita por Darwin, para explicar a evolução e adaptação foi por ele denominada Princípio da Divergência dos Caracteres: "as pequenas diferenças, que a princípio mal se podiam perceber, vão aumentando até se tornarem nítidas, distingüindo as raças entre si e em relação ao seu ancestral comum...quanto mais diversificados se tornam os indivíduos de uma espécie no que se refere à estrutura, constituição e hábitos, tanto mais estarão capacitados a predominar em um habitat bem amplo, ocupando diversas vagas existentes na economia da natureza, podendo assim multiplicar-se extraordinariamente". (A expressão "Economia da Natureza", utilizada por Darwin, poderia ser substituida nos dias de hoje pela palavra "Ecologia", que só foi criada por Haeckel dez anos após a 1a publicação do "Origem das Espécies".)

No capítulo V, Darwin comenta sobre as leis da variação, tendo como componentes ou causas os efeitos das condições externas, os efeitos do uso e desuso, aclimatação e a correlação de crescimento. Porém, neste assunto, Darwin cometeu alguns erros de interpretação dos fatos que observou, ao partir de uma premissa básica errada. Ele comenta "...todas as vezes que nos referimos às variações... atribuímos sua ocorrência ao mero acaso. Trata-se, indubitavelmente, de um modo de falar inteiramente incorreto..." Na verdade, hoje sabemos que as variações (ou mutações) ocorrem justamente ao acaso. E é a seleção natural __ aí sim, a adaptação às condições externas de vida, como clima, alimentação, etc __ que irá determinar se a variação é útil ou nociva (veja os exemplos de seleção natural ao final desta matéria).

No capítulo VI, Darwin examina e tenta elucidar algumas das dificuldades e objeções que poderiam ser levantadas contra suas teorias. Na verdade, como ele próprio assume, "algumas são tão sérias, que até hoje não posso analisá-las sem que me sinta um tanto confuso", suas idéias poderiam ao menos lançar alguma luz aos diversos fatos que eram inteiramente obscuros na época.

No capítulo VII, Darwin trata de um tema fascinante; o Instinto, suas diversidades e sua relação com a seleção natural. Após distingüir o instinto puro __ ação que não exige experiência e é praticada de maneira idêntica por todos indivíduos da mesma espécie animal __ da ação instintiva associada ao hábito, ele resume assim sua visão sobre o assunto: "Ninguém irá contestar que os instintos se jam da maior importância para os animais; por conseguinte, não vejo dificuldade em crer que, sob condições mutáveis de vida, a seleção natural acumule modificações ligeiras de instintos, no rumo de alguma direção útil". Nos capítulos seguintes, Darwin tece comentários sobre o Hibridismo, a imperfeição dos registros geológicos, a sucessão geológica dos seres vivos, distribuição geográfica, e afinidades mútuas dos seres organizados, com morfologia, embriologia e orgãos rudimentares. No último capítulo, Darwin faz a recapitulação e conclusão de seu livro e escreve: "No futuro distante, vizualizo novos campos que se estendem para pesquisas ainda mais importantes... Nova luz será lançada sobre o problema da origem do homem e de sua história".

Texto de Marcelo Szpilman Biólogo Marinho, Diretor do Instituto Ecológico Aqualung, Editor do Informativo do Instituto e autor dos livros Guia Aqualung de Peixes e Seres Marinhos Perigosos.

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